Guarda e visitação: como a Justiça decide o que é melhor para a criança
Guarda e Visitação: Como a Justiça Decide o Que É Melhor para a Criança
Introdução
Quando um casal com filhos decide se separar, surge uma das questões mais delicadas e emocionais do processo: com quem a criança vai ficar? A decisão sobre guarda e visitação deve sempre priorizar o melhor interesse da criança, e não os desejos pessoais dos pais. Mas como a Justiça decide isso? Neste artigo, vamos explicar os critérios utilizados pelos tribunais, os tipos de guarda existentes e como funciona o direito de visitação. Também traremos um exemplo prático para esclarecer dúvidas e ajudar você a entender como funciona esse processo.
Princípio do Melhor Interesse da Criança
O principal critério que norteia as decisões da Justiça em casos de guarda e visitação é o princípio do melhor interesse da criança, previsto no art. 227 da Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990, art. 4º. Esse princípio garante que as decisões judiciais devem sempre buscar o bem-estar físico, emocional, psicológico e social da criança.
A prioridade absoluta é que a criança cresça em um ambiente saudável, com vínculos familiares preservados, estabilidade emocional e contato com ambos os genitores.
Os Tipos de Guarda no Direito Brasileiro
A legislação brasileira estabelece dois principais tipos de guarda, com base no Código Civil, art. 1.583:
- Guarda Compartilhada:
- É a regra no Brasil, conforme a Lei nº 13.058/2014, que alterou o Código Civil.
- Ambos os pais compartilham responsabilidades e decisões importantes sobre a vida da criança, como educação, saúde e bem-estar.
- A criança pode residir predominantemente com um dos pais, mas o outro deve ser informado e participar de todas as decisões.
Vantagens da Guarda Compartilhada:
- Garante maior equilíbrio na criação da criança.
- Evita que um dos genitores se sinta excluído.
- Promove a manutenção do vínculo afetivo com ambos os pais.
- Guarda Unilateral:
- Um dos genitores é o principal responsável pela criança, enquanto o outro tem o direito de convivência (visitas).
- Só é aplicada em situações excepcionais, como casos de abandono, negligência ou comprovação de que um dos pais não tem condições de cuidar adequadamente da criança.
Como a Justiça Decide a Guarda?
Na prática, a decisão sobre a guarda e visitação não é baseada em “quem ama mais”, mas em critérios objetivos e legais que priorizam a segurança e o bem-estar da criança.
Os juízes analisam:
- Vínculo Afetivo: Qual é a qualidade do vínculo da criança com cada genitor?
- Capacidade de Cuidado: Quem tem melhores condições de oferecer suporte emocional, financeiro e estabilidade para a criança?
- Rotina e Ambiente: A criança precisa de continuidade na sua rotina. A proximidade com a escola, familiares e amigos é avaliada.
- Histórico Familiar: Situações de violência doméstica, negligência ou abandono pesam contra o genitor que as praticou, de acordo com o art. 1.634 do Código Civil e o art. 4º do ECA.
- Desejo da Criança: Em alguns casos, a opinião da criança é considerada, principalmente se ela tiver maturidade para expressar suas preferências.
Importante:
A Justiça está cada vez mais inclinada a optar pela guarda compartilhada, independentemente de o casal ter uma relação conflituosa, exceto em casos de risco à criança, como violência ou abuso.
Direito de Visitação e Convivência Familiar
O genitor que não detém a guarda tem o direito de visitação, assegurado pelo art. 1.589 do Código Civil. Mais do que um direito, trata-se de um dever, pois a convivência com ambos os pais é essencial para o desenvolvimento saudável da criança.
Como Funciona o Direito de Visitação?
- Acordo Amigável: Os pais podem decidir juntos os dias e horários de convivência.
- Decisão Judicial: Caso não haja acordo, o juiz determinará um cronograma de visitas (geralmente finais de semana alternados, feriados e férias escolares).
- Flexibilidade: A Justiça incentiva que as visitas sejam ajustadas às necessidades da criança, como compromissos escolares ou atividades extracurriculares.
Exemplo Prático: Uma Decisão Judicial de Guarda Compartilhada
Caso: Maria e João se separaram após 10 anos de casamento. Eles têm uma filha, Ana, de 7 anos. Maria deseja a guarda unilateral, alegando que João não é presente. João, por sua vez, quer a guarda compartilhada.
O que aconteceu no processo:
- O juiz analisou que João sempre participou da rotina da filha e que Maria não apresentou provas de negligência ou incapacidade.
- Decidiu-se pela guarda compartilhada, com Ana residindo predominantemente com Maria. João terá direito de visitação semanal e deve ser informado sobre todas as decisões importantes.
Resultado:
Ana manteve o vínculo com ambos os pais, com decisões tomadas em conjunto, garantindo seu bem-estar emocional.
Quando Revisar a Guarda ou Visitação?
Mudanças significativas nas condições das partes envolvidas podem justificar a revisão da guarda ou do regime de visitação. Isso pode ser solicitado por qualquer um dos genitores ou até pelo Ministério Público, conforme o art. 1.584, § 5º do Código Civil.
Motivos para Revisão:
- Mudança de endereço de um dos pais.
- Alteração na condição financeira.
- Comprovação de negligência, violência ou alienação parental.
- Pedido da própria criança, dependendo de sua idade e maturidade.
O Que é Alienação Parental?
A alienação parental ocorre quando um dos genitores tenta afastar a criança do outro por meio de manipulação ou atitudes que prejudiquem o vínculo afetivo. Essa prática é considerada prejudicial e pode ser punida conforme a Lei nº 12.318/2010.
Exemplos de Alienação Parental:
- Falar mal do outro genitor para a criança.
- Impedir ou dificultar as visitas.
- Fazer falsas acusações para afastar a criança do outro pai/mãe.
Dúvidas Comuns
- O Pai Sempre Tem Direito a Visitas?
Sim, a menos que haja provas concretas de que ele representa risco à criança. - E Se o Pai Não Cumprir as Visitas?
É possível acionar a Justiça para reavaliar a convivência. - O Que Fazer em Caso de Conflitos Sobre a Guarda?
Procure a mediação familiar, e, se não funcionar, entre com uma ação judicial com a ajuda de um advogado.
Conclusão
A guarda e visitação devem sempre priorizar o bem-estar e o desenvolvimento saudável da criança. Para isso, a Justiça adota critérios objetivos, buscando preservar os vínculos familiares e a convivência equilibrada entre os pais.
Se você está enfrentando questões relacionadas à guarda ou visitação, busque orientação jurídica. Um advogado especializado pode ajudar a garantir que seus direitos — e principalmente os da criança — sejam respeitados.
Compartilhe este artigo para que mais pessoas conheçam os critérios e a importância de proteger o interesse das crianças nesse processo tão sensível. Afinal, uma decisão bem fundamentada pode transformar vidas!